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Um Viva para os Lixeiros de Recife

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11/01/2016

          De férias em Recife, assisti os lixeiros  trabalhando no dia de Natal e de Ano Novo também. Todos sujavam, eles limpavam. Ninguém parecia importar-se com os lixeiros e nem eles com os demais. Lembrei-me de uma greve da categoria em Nova York que, ao atingir o décimo  dia, levou a população a iniciar uma fuga para  fora da cidade, assustada com a possibilidade de uma epidemia. Na capital pernambucana, vendo os lixeiros trabalhar árdua e  alegremente, num dia em que todos se banqueteavam,  senti-me provocado a refletir sobre   o fato de que, ao contrário daquela alegria,  o País entrará 2016 com 1,5 milhão de demitidos    e 8 milhões `a procura de emprego. Nem todos têm consciência do ônus que isso representará para a economia e para a sociedade.
 
             Em solidariedade a esses milhares de trabalhadores a jornalista Ana Maria Braga usou, num artigo , a expressão “Pé na bunda” para contar  a desagradável experiência de demitida. Não é fácil, concluiu. Por mais rústica que seja a metáfora,  somos obrigados a admitir que ela  contém paradoxalmente um caráter  pedagógico que não deveria ser  desdenhado. A perda do emprego, e não o literalmente “pé na bunda”,  deve ser encarada como um novo desafio  diante do desconhecido e até de si mesmo. Pode funcionar  como método para  ajudar a tirar  milhares de demitidos da “zona de conforto” e até gerar riquezas.
  
           O “pé na bunda”  é uma oportunidade   de renovação , para fazer novos amigos  e para redescobrir qualidades  individuais incubadas.    No fundo, ele funciona como a superação de uma etapa de vida e o início de outra. Parece ser tão sofrido para o trabalhador como  para o empregador, parceiros na proteção do emprego e na preservação das empresas. São orgânicos. Nesse tipo de relação a luta de classes  é quase uma abstração, e a intervenção do Estado um complicador.  As empresas do Governo, movidas a projetos, renovam suas propostas  todo ano e, consequentemente, parte do pessoal. As empresas privadas operam visando lucros,  que são os condutores dos reinvestimentos destinados a   mantê-las tecnologicamente atualizadas e  competitivas.  São condicionantes que exigem mudanças constantes, tanto na força  do trabalho quanto naintelligenza.É  a reprodução do capital, sim, mas isso  não é um mal em si, senão uma necessidade para impedir  o obsoletismo dos processos, os desgastes dos equipamentos e a desatualização  da força de trabalho.

                A maioria dos demitidos falta compreensão  sobre o funcionamento da sociedade, a responsabilidade social da empresa e o papel do trabalho, visto, em geral, como um encargo, e não como um  privilégio.Por isso torna-se presa fácil da demagogia política. Se voltarmos à natureza das coisas, vamos observar que os ensinamentos bíblicos são muito mais claros e rígidos, quando dizem que  “[...} com o suor do teu rosto comerás o pão de cada dia .”  Para isso foi dado ao homem  três plataformas de sobrevivência, chamadas  fatores de produção: capital, terra e trabalho. Cada um desses fatores  apresenta existência distinta, funções exclusivas,porém complementares entre si, organicidade que cabe à iniciativa empreendedora. A destruição da empresa destrói também os empregos. A produtividade e a qualidade não parecem ser movidas exatamente por  salários maiores ou menores.   

          A agressividade da expressão  “pé na bunda”  é aparentemente injuriosa porque remeteria o sujeito ao limbo, como se pretendesse subjugá-lo moralmente. Na realidade, liberta-o da sensação  da nostalgia das rotinas do próprio trabalho, inibidoras da criatividade individual.  A maioria dos trabalhadores anseiam por mudar de trabalho, mas covardemente tem medo de perder  o emprego, o  que resulta numa enorme falta de confiança em si mesmo e até numa contagiante e permanente infelicidade. A demissão é um instrumento natural que regula as relações de trabalho, e nela estão implícitas todas essas variáveis da psicologia do trabalho, dos direitos e obrigações do homem, induzindo-o  subliminarmente à valores previdenciários.  Assim, o “pé na bunda”  está mais próximo de uma pobreza vocabular e do embrutecimento  das relações entre as pessoas comuns, que das normas de trabalho. Seu caráter pedagógico, não dado previamente,  é quase indiscutível . Ele convoca o sujeito a um maior nível de percepção sobre a importância do trabalho, oferecendo ao indivíduo a oportunidade de participar alegremente desse mundo. Um viva, portanto,  para os lixeiros de Recife .                

*Jornalista, professor. Doutor em História Cultural

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